Publicidade
Anuncie

Demanda interna cai novamente, intensificando o risco de fechamento de plantas do setor químico

01/11/2023 - 14:11

Uso da capacidade instalada chegou aos preocupantes 59% em agosto, o menor nível da série; enquanto isso, importações mantém trajetória de alta

Nos últimos dois meses, julho e agosto de 2023, os principais índices do segmento de produtos químicos de uso industrial registraram resultados negativos, na comparação com os meses anteriores. A produção recuou 1,88% em agosto de 2023, após declínio de 6,11% em julho.

Na comparação com iguais meses do ano passado, a produção declinou 17,45% em julho e de 15,54% em agosto. Vale pontuar que agosto de 2023 teve o pior resultado mensal em termos de produção desde 2007. Por outro lado, as vendas internas tiveram um acréscimo de 2,32% em julho e de 7,97% em agosto, ambas variações sobre os meses anteriores.

Apesar dessa melhora, o patamar médio de vendas do bimestre julho-agosto de 2023, a exemplo do que se verificou com a produção, foi o pior desde 2007. Ou seja, a alta recente não compensou as fortes quedas de vendas dos meses anteriores.

O volume de importações teve recuo de 8,8% em agosto, após uma forte elevação de 31,1% em julho de 2023, na comparação mensal. Com esses resultados, a demanda interna, medida pelo CAN (consumo aparente nacional), exibiu redução de 7,9% em agosto de 2023, sobre o mês anterior, e ficou 15,0% abaixo da de agosto de 2022.

Além do aumento da participação do produto importado sobre a demanda, preocupa o recuo da demanda final por produtos químicos, pelo segundo ano consecutivo, uma vez que reflete que o cliente da química também está sofrendo com a possível importação de bens e produtos de uso final.

O nível de utilização da capacidade instalada ficou no mais baixo patamar da história dos indicadores da Abiquim, com uso de apenas 59% em agosto de 2023, após ter registrado 62% em julho. Em relação a agosto do ano passado, esse índice recuou nove pontos em relação a agosto do ano passado (68%).

No que se refere ao índice de preços, o segmento teve deflação nominal de 2,51% no mês de agosto, após queda de 6,64% em julho de 2023. Os preços no mercado doméstico têm acompanhado a forte pressão do cenário internacional. A economia mundial passa por um período conturbado e de forte instabilidade, sobretudo em decorrência da guerra entre Rússia e Ucrânia, agravado recentemente pelo conflito em Israel. Os preços dos energéticos em geral (óleo, gás e eletricidade), que subiram muito em meados do ano passado, não retornaram aos níveis pré-crise russa, mas já ensejam novas altas em razão dos acontecimentos mais recentes. Por outro lado, a demanda agregada mundial está estagnada.

Segundo Fátima Giovanna Coviello Ferreira, diretora de Economia e Estatística da Abiquim, cada país responde à sua maneira nesse cenário negativo. “Alguns apresentam políticas agressivas para estimular a economia interna; outros adotam restrições e barreiras à entrada de importações, visando proteger o seu mercado doméstico; outros, ainda, como o Brasil, sofrem com importações desleais de países da Ásia, que não aplicaram embargos às exportações da Rússia e conseguiram fechar negócios vantajosos em termos de compra de óleo e de gás.”

As perspectivas, continua Coviello, não são animadoras caso se leve em conta a aproximação do inverno no hemisfério norte, que deve afetar sobretudo o mercado europeu com custos altos dos energéticos. “Os preços do gás no Brasil antes do conflito representavam três vezes o valor do henry-hub americano, mas esses valores estão sendo pressionados e atualmente a diferença é bem maior (no Brasil cerca de 16/MMBTU, contra US$ 3,0/MMBTU nos Estados Unidos)”, afirmou.

Dentro desse cenário preocupante, vale destacar o aumento da participação do produto importado sobre a demanda local, que alcançou 45% nos primeiros oito meses de 2023. Esse aumento relativo significa uma perda de dois pontos percentuais na participação de mercado para o produtor local. O índice de utilização da capacidade instalada ficou em 65% na média entre janeiro e agosto de 2023, seis pontos abaixo do patamar de igual período do ano passado e atingiu o nível mais baixo da série desde 2007. De janeiro a agosto de 2023, o IGP Preços acumula variação negativa de 17,25%.

“A alta ociosidade do uso da capacidade produtiva mostra que a indústria local tem condições de elevar a produção no curto prazo, sem necessidade de novos investimentos. Por ouro lado, o resultado da manutenção desse quadro difícil e desafiador pode ser o fechamento de plantas do setor químico, como, aliás, vem acontecendo nos últimos 30 anos”, finaliza Coviello.

  Mais notícias